
Física
A criança com deficiência, para suprir ou amenizar seus déficits, é submetida a tratamento reabilitador conduzido por uma equipe composta por vários profissionais; dentre eles, destacam-se fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos e pedagogos.
Esses profissionais, na condução terapêutica do tratamento reabilitador da criança, necessitam manter vínculos com os pais, para que, dentro de suas áreas de atuação, possam orientá-los.
Neste artigo, será abordada a importância da compreensão, por parte do terapeuta, das condições emocionais dos pais da criança com deficiência, para que seja um mediador mais habilitado a orientar o casal durante o processo de reabilitação de seu filho.
Segundo Assumpção (1993), por ocasião da chegada de uma criança com problemas na família, esta já terá sentido o impacto de um acontecimento estranho e misterioso: um de seus membros é deficiente. Continuando, afirma que, sendo a família um sistema, qualquer mudança em um de seus integrantes afeta todos os outros. A família de uma criança com deficiência tem seus problemas intensificados pelos muitos pré-requi-sitos, necessidades e atitudes que lhe são impostos devido à deficiência.
Desde muito cedo, a criança com deficiência e sua família entram em contato com diversos profissionais ligados à saúde e à educação, que, por sua vez, de acordo com o tipo de deficiência, oferecem orientações quanto aos cuidados necessários.
Dentre eles, destacam-se como oferecer estímulos adequados, como higienizá-la, alimentá-la, carregála e, acima de tudo, como realizar as adaptações que irão facilitar o dia-a-dia dessa família.
A educação e o suporte familiar são os aspectos mais benéficos quando se educa uma criança incapacitada. Contudo, isso nem sempre tem sido feito de maneira adequada (Umphred, 1994). Provavelmente, isso aconteça em decorrência de alguns fatores. Na formação acadêmica de profissionais da equipe de reabilitação, muitas vezes não há a preocupação de capacitá-los em educação e suporte familiar.
Estágios emocionais do desenvolvimento familiar em relação à deficiência
“Ninguém quer ter um filho deficiente.” Bavin (2000, p. 19) inicia seu capítulo dessa forma. Tal constatação pode ser explicável, se pensarmos um pouco nos pais que têm filhos com algum tipo de deficiência.
Na sociedade competitiva em que vivemos é natural, durante o período gestacional, que os pais anseiem por um bebê saudável, normal e que cresça como qualquer outra criança. Conforme Kennell (1993, p. 245) “o bebê é a culminação dos melhores esforços de seus pais e concretiza suas esperanças para o futuro”. Quando esses mesmos pais se deparam com a realidade do filho desejado ter uma(s) deficiência(s), muitos sentimentos podem aflorar. As respostas a essa realidade, tanto sociais como familiares, podem ser desde a proteção excessiva até a rejeição.
O período de sensibilidade se encontra nos primeiros minutos e horas após o nascimento. Durante esse tempo, os pais devem estar em íntimo contato com a criança para estabelecer fortemente a ligação que irá mais tarde tornar-se mais profunda, seja olhando para o bebê, tocando-o ou carregando-o.
Klaus e Kennell (1992) referem que os pais geralmente parecem experimentar cinco estágios emocionais: choque, negação, tristeza e cólera, equilíbrio e reorganização.
Esses autores acreditam que educação e suporte familiar são os aspectos mais benéficos quando se tem uma criança com deficiência. E a reação familiar nesse momento delicado será de fundamental importância para o bem-estar futuro, tanto do bebê como de toda a família.
Após o choque inicial, a família precisa ponderar sobre sua tarefa de fazer o melhor pelo filho com deficiência. Os pais têm papéis a serem desempenhados no processo da reabilitação, se ambos se sentem responsáveis pelo tratamento e acompanhamento da criança com especialistas.
Atitudes como aceitação incondicional do filho com deficiência, amor equilibrado, demonstrações de afeto muito auxiliarão na reabilitação física, uma vez que é na família que as primeiras e mais importantes relações interpessoais são vivenciadas pela criança; bem como a busca de uma vida familiar normal, sem sacrificar os membros da família emprol do bem-estar da criança com deficiência.
Por outro lado, muito dos conceitos errôneos e preconceitos acerca da deficiência advém da própria atitude familiar. Pais cônscios da realidade atuam como agentes multiplicadores da real compreensão sobre as necessidades da criança com deficiência.
Mas, enfim, o que os pais precisam fazer para auxiliarem o filho no processo da reabilitação física? Em primeiro lugar, esforço. A aceitação passiva de um prognóstico vago está longe de ser uma atitude ideal. A família deve procurar observar realisticamente o estado de evolução da criança e procurar mecanismos que ajudem o filho a desenvolver ao máximo suas capacidades. Perseverança e paciência são ingredientes essenciais na superação das dificuldades.
Em segundo lugar, a disciplina. As crianças com deficiência física podem e devem desenvolver comportamento socialmente aceito. Quando isso ocorre na prática, facilita o processo da reabilitação física. Em casa, com a família, a criança aprende a ficar quieta, a deixar as coisas no seu devido lugar, e, assim, na sessão de reabilitação estará menos agitada e mais atenta às orientações dos terapeutas.
A princípio, o comportamento dos pais em relação a seu filho com deficiência, para minimizarem o próprio sentimento de culpa, faz com que os limites impostos à criança não fiquem claros, dificultando, assim, o estabelecimento de regras e disciplinas, ocasionando comportamentos sociais indesejáveis, por parte da criança.
Como relatado por Umphred (1994), o ajuste psicológico familiar e terapêutico é um processo fluido, pois todas as pessoas estão constantemente em processo de mudança. Os componentes do ajustamento psicológico bem-sucedido à incapacidade física variam. Para trazer um paciente ao nível de função que seja da melhor qualidade de vida possível, os terapeutas precisam olhar, holisticamente, para os aspectos psicossociais e para os processos de ajustamento envolvidos, avaliar cada componente e integrar os processos no meio terapêutico para promover o crescimento em todas as áreas.
Fonte: Universidade Presbiteriana Mackenzie