
Física
Reabilitação motora: orientação como parte essencial do tratamento
Em reabilitação motora, lida-se com questões pertinentes às dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência, bem como o que essas dificuldades provocam em suas relações com os outros.
Orientações de manuseio, postura e posicionamentos, além das muitas formas de brincar e de adaptação das atividades do quotidiano dessas crianças, são utilizadas como técnicas e estratégias fundamentais para o tratamento fisioterapêutico.
As diversas formas de orientação em reabilitação motora envolvem conceitos e teorias ligados a métodos de tratamento, que são utilizados com crianças com distúrbios motores.
Segundo Sheperd (1996), a aquisição do controle motor e das habilidades motoras é conseqüente à modificação progressiva do sistema nervoso, que se caracteriza pelas alterações que se processam nas ligações sinápticas, e essas conexões estão na dependência do uso e da manipulação. Portanto, não se pode esperar que a criança adquira certas habilidades antes do respectivo desenvolvimento neural, porém a prática e a oportunidade para as interações eficazes com o meio ambiente parecem exercer influência decisiva sobre o desenvolvimento neuromuscular.
Pode-se, então, refletir sobre a importância da orientação aos pais que, por sua vez, devem inserir-se no cotidiano da criança com deficiência utilizando estímulos e intervenções que visem a adequar o tônus, corrigir e controlar as posturas e movimentos que estejam alterados e desordenados, em conseqüência da patologia que esteja prejudicando o desenvolvimento das aquisições motoras de seu filho.
De acordo com Bobath (2001), qualquer que seja o tratamento ao qual a criança esteja submetida, não será efetivo se essa experiência não for transferida para as atividades de seu cotidiano. As orientações devem ajudar os pais a entender o porquê de a criança não conseguir realizar certos movimentos e por que outros movimentos são feitos com anormalidades e muito esforço. Entendendo que as posturas e movimentos anormais de seus filhos fazem parte de uma condição que pode ser modificada e melhorada, os pais sentem-se motivados a ter uma participação ativa no processo de reabilitação.
Lorenzini (1999) enfatiza que as crianças com deficiência reagem a menos estímulos do ambiente, e as suas respostas a esses estímulos são demoradas ou ausentes, portanto necessitam de trabalho contínuo para que possam tirar proveito de suas experiências. A autora relata ainda que, para que a criança desenvolva suas capacidades, ela deve ser assistida de forma que os estímulos cheguem até ela e seus movimentos receptivos venham ao encontro de suas necessidades e interesses.
Assim, a autora acima citada propõe que a orientação seja conduzida de maneira simples e voltada para atividades e brincadeiras integradas na rotina da família, de uma maneira divertida e focada no potencial da criança.
Finnie (2000) sugere diversas formas de brincar com as crianças com paralisia cerebral, orientando os pais sobre as maneiras mais adequadas de carregar, higienizar e alimentar seus filhos, propondo utensílios e adaptação que em muito facilitarão o cotidiano de pais de crianças com deficiência.
Uma vez que a criança faz parte de uma unidade familiar, o profissional deve programar o tratamento, visando a beneficiar tanto a criança como sua família.
Assim, o que provocar uma melhora na criança refletirá na sua família, e o que se conseguir em relação à conscientização da família refletirá na criança.
A eficácia da orientação está relacionada concomitantemente à orientação técnica com a capacidade de reconhecer as condições emocionais de quem a ouve (pais).
Para Vygotsky (apud Braga, 1995), é por meio da interação do ser humano com outras pessoas e com seu meio social que ocorre a formação do comportamento e do pensamento. Ainda segundo esse pedagogo construtivista, todo processo de tomada de consciência do sujeito, através dos processos sociais, é permeado pelo processo de mediação, visto que a mediação é a própria relação carregada de significados e sentidos.
E, como o que está em discussão é o papel da orientação na reabilitação motora, tornase evidente a importância do terapeuta como mediador desse processo.
Já Piaget (1975) afirma que a vida afetiva vai se desenvolver em paralelo com as aquisições intelectuais, e os afetos são expressos por atividades, as quais resultarão na elaboração do universo de emoções que se projetarão, por sua vez, sobre outras atividades. Desse modo desenvolve-se o processo de interação entre pais e filho. Tal desenvolvimento somente será benéfico para ambas as partes, à medida que os processos emocionais e afetivos dos pais forem compreendidos, analisados e orientados pelo terapeuta.
A relação entre o terapeuta e os pais torna-se uma adaptação primordial à situação da deficiência, de maneira que os pais possam visualizar nessa relação uma base de apoio, sem tornar a criança com deficiência dependente ou incapaz de enfrentar situações sociais cotidianas.